Academia Brasil-Europa© de Ciência da Cultura e da Ciência Akademie Brasil-Europa© für Kultur- und Wissenschaftswissenschaft
»_português---------»_deutsch---------»_impressum---------»_contato---------»_Brasil-Europa.eu
RENOVAÇÃO DO ENSINO INSTRUMENTAL (1969)
Antonio Alexandre Bispo
Vamos hoje tecer algumas considerações básicas a respeito da orientação, do escopo e dos métodos do nosso curso. Embora este seja, em princípio, um curso de piano, é compreendido por mim de forma muito mais abrangente, como deixei bem claro à direção desta Fundação ao aceitar o convite que me foi feito. Se o aceitei, isto o fiz pela admiração que tenho pelo Prof. Paulo Affonso de Moura Ferreira, que transferiu-se para Brasília e indicou-me para assumir o seu lugar. Tenho colaborado com ele em concertos promovidos pela Sociedade Nova Difusão Musical, da qual sou um dos diretores. Nesses e em outros concertos temos procurado divulgar a música contemporânea, pois é um dos objetivos dessa sociedade contribuir para a renovação do repertório musical e do ensino. É sob essa perspectiva que vejo a minha atuação nesta Fundação. Faço absoluta questão de considerar o ensino de piano que aqui me foi confiado como um ensino musical no seu sentido mais amplo. Longe de mim está querer implantar aqui somente alguma escola técnica baseada em métodos do século XIX, utilizados como guias válidos para todos os tempos ou segundo a tradição de alguma pianista famosa que atua ou que alcançou renome entre nós. Para mim, não só o repertório musical deve ser atualizado, mas também os métodos devem ser utilizados conscientemente, não como livros de receitas, porém vistos na sua época histórica. Não quero fazer-me culpado naquilo que muitos criticam no ensino atual do piano, ou seja, a falta de inteligência e fantasia, fazendo com que os alunos pratiquem por horas a fio, diariamente, de forma mecânica, exercícios regulados metronômicamente, como se fossem atletas que se embutecem no treinamento físico do corpo. Esse procedimento, comum em algumas de nossas renomadas " escolas" de piano, é um atentado à inteligência, ao espírito, à responsabilidade educacional num país como o nosso; é uma vergonha para o ensino musical! As diretrizes técnico-metodólogicas do nosso ensino devemos a Michael Beroff e Pierre Klose e os principais incentivos quanto à renovação do repertório a Ernst Widmer, cujo Ludus tonalis nos servirá como guia. Com base nessa coletânea de peças ordenadas por grau de dificuldade, discutiremos alguns dos problemas que hoje se colocam na composição musical. Teremos, assim, paralelamente ao aprendizado do instrumento, uma introdução à linguagem e à reflexão musical de nossa época. Paralelamente, utilizaremos outros métodos e peças representativos do século XX, tais como aquelas do Microkosmos de Béla Bartók, e vamos sempre dar especial atenção aos compositores brasileiros. Hoje vamos ouvir, por exemplo, algumas peças de Ernst Mahle. Paralelamente, vamos desenvolver estudos rítmicos e também auditivos com base no Treinamento elementar para músicos de Hindemith. Pretendo, além do mais, com base no desenvolvimento de cada um dos alunos, escrever peças que tratem criativamente de problemas teóricos de um ponto de vista prático ou de problemas práticos de um ponto de vista teórico. Como um exemplo, apresentamos hoje uma peça idealizada como uma "tocata percussiva" e que denominamos de "Socata". A partir desta peça vamos discutir, a seguir, se o piano deve ser considerado como sendo um instrumento mais de percussão ou antes como um instrumento de natureza melódico-harmônica.
Aula coletiva a alunos de piano na Fundação Cultural de São Caetano do Sul, 1969 (Excertos). Publicado em partes em BrasilEuropa& Musicologia, Köln: I.S.M.P.S. e.V. 1999, 95-101. ©Todos os direitos reservados
» zurück: Materialien