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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA ETNOMUSICOLOGIA (1972)
Antonio Alexandre Bispo
Vamos dar início hoje a um curso de Etnomusicologia no sentido próprio do termo, que, pelas suas características, amplas dimensões e organização é pioneiro no Brasil e, talvez, até mesmo em outras nações da América latina e de outros continentes, com exceção, naturalmente, dos Estados Unidos e de alguns países europeus. Este curso terá no total a duração de três anos, ou seja, de seis semestres, comportando aulas teóricas e pesquisas de campo individuais ou de grupo. As aulas serão semanais, de duas horas de duração e os conhecimentos transmitidos serão regularmente averiguados através de provas. As aulas serão proferidas em dois turnos, de modo que, se os Srs. perderem uma das aulas, poderão recuperá-la, dentro da mesma semana, no outro turno. Ao término do curso, os Senhores deverão apresentar um trabalho de pesquisa de campo, realizado individualmente ou em grupo. Esse trabalho será orientado por mim, discutido em grupo e deverá ser apresentado, por fim, em aula. O estudo mais intenso da disciplina poderá também levar a um certificado de especialização em Etnomusicologia, dependendo da carga horária e de outros critérios que os Senhores poderão indagar à direção da Faculdade. O termo Etnomusicologia já foi utilizado anteriormente em cursos desta e talvez de outras instituições, é verdade, mas antes como uma espécie de substituição da denominação Folclore. Muitos dos Senhores já realizaram cursos de Folclore, às vezes também chamado de Folclore e Etnografia Musical em conservatórios ou até mesmo nesta Faculdade. A partir deste ano, a disciplina Etnomusicologia deverá ser separada do curso de Folclore, que continuará a ser ministrado independentemente. Essa separação justifica-se por motivos conceituais e metodológicos, os quais serão cuidadosamente esclarecidos. O curso está organizado da seguinte forma: o primeiro semestre será dedicado a aspectos gerais da etnomusicologia, à história da disciplina, aos conceitos e métodos, assim como às suas relações com disciplinas similares e afins; os demais semestres serão dedicados respectivamente ao estudo etnológico das culturas musicais da Ásia e Oceania, da África, da Europa e da América, sendo o último semestre dedicado ao que chamamos de Etnomusicologia urbana ou metropolitana, adequada às grandes cidades como São Paulo e à preparação do trabalho de pesquisa de campo. O estudo etnomusicológico dos vários continentes não deverá apenas fornecer um panorama geral das culturas musicais do mundo, mas sim preparar para a compreensão mais profunda da cultura dos vários grupos populacionais que vivem conosco na nossa metrópole e com os quais os Srs. lidam como professores. Devido ao caráter pioneiro desta disciplina, que está sendo agora implantada, a preparação das aulas não foi fácil. Ela exigiu um longo e amplo levantamento das obras especializadas existentes nas nossas bibliotecas, livrarias e em coleções particulares, além das gravações disponíveis na Discoteca Pública Municipal de São Paulo e no mercado de discos. Na medida do possível foram feitas cópias de gravações originais ou antigas, solicitadas aos consulados e embaixadas ou adquiridas no comércio. Desta forma, as aulas poderão ser ilustradas e as gravações poderão ser analisadas. Alguns livros fundamentais foram encomendados do Exterior e alguns de nossos amigos que assinam revistas especializadas ou delas possuem exemplares esparsos tiveram a gentileza de as colocarem à nossa disposição. Mesmo assim, longe estamos de ter acesso à maioria dos trabalhos publicados, sobretudo aqueles surgidos em revistas especializadas mais antigas da Europa e dos Estados Unidos. A aquisição gradativa de cópias dessas publicações é uma tarefa para o futuro. Pudemos, porém, apesar de todos os sacrifícios, constituir particularmente já uma boa biblioteca básica de Etnomusicologia que coloco desde já à disposição dos Senhores. Como muitos dos Senhores são professores e músicos altamente ocupados, não teriam condições e tempo para a procura das bibliotecas, e a aquisição de obras estrangeiras é praticamente impossível pelo seu alto custo. Além do mais, há o problema do idioma dessas publicações. Há algumas publicações em castelhano ou em francês, muitas delas são, porém, em inglês ou em alemão. Vamos, por isso, trabalhar com apostilas que tenho preparado e com um livro que servirá como manual básico, pois contém artigos de diversos autores e está traduzido para o português. Trata-se da obra "Música" da Plêiade. Os capítulos dessa coletânea, de natureza muito diversificada, serão discutidos e eventualmente completados criticamente em aula com base no material que dispomos. Ao lado dessa obra, seria conveniente que os Srs. adquirissem, individualmente ou em grupo, o livro de Bruno Nettl, Theory and Method in Ethnomusicology, assim como o de Alain Danielou, Traité de Musicologie Comparée, pois serão especialmente empregados e discutidos nas aulas. Os Senhores estão certamente assustados com essas dificuldades de acesso à bibliografia da nossa disciplina. Torna-se muito difícil, de fato, a pesquisa bibliográfica no campo da etnomusicologia geral em face do material existente, no momento, em nossas bibliotecas e livrarias. Cabe, portanto, a esta aula, informar acerca dos recursos bibliográficos de nossa disciplina, alertando, de início, quanto à ausência, quase que total, das obras citadas em nossas instituições públicas. Além disso, as publicações no campo da etnomusicologia têm aparecido em livros e periódicos de uma grande variedade de disciplinas, obrigando o bibliógrafo a trabalhar em áreas da musicologia geral, da antropologia, do folclore e outros campos. Por outro lado, importante material pode ser encontrado em publicações que não tratam apenas da música, mas de vários aspectos da cultura. Preferimos, ao invés de uma simples enumeração de obras, que os Srs. poderão ver na lista bibliográfica a ser distribuida, tecer algumas observações a respeito da literatura existente. Os comentários das obras existentes unicamente em língua alemã foram realizados com o auxílio do Mtro. Martin Braunwieser ou baseados nos dados da obra citada de Bruno Nettl e que nos serve de guia. Comecemos com aquele que talvez seja o mais usual dos livros básicos, ou seja, com a Ethnomusicology de Jaap Kunst, primeiramente publicado em 1950, em Amsterdam, sob o título "Musicologica", em segunda edição, em 1955, e em terceira edição, em 1958, também em Amsterdam. É um estudo da natureza da disciplina, de seus problemas, métodos e personalidades mais representativas, cujo principal interesse é, para nós, a sua volumosa bibliografia e dados sobre a história da etnomusicologia. Como Nettl salienta, apesar de escrito na década de 1950, seu ponto de vista deve ser visto sob o pano de fundo do pensamento daqueles estudiosos germânicos de 1920. No capítulo "Training possibilities for ethnomusicologists", dá uma idéia a respeito do aprendizado da disciplina e das instituições especializadas. Esta obra, básica pela sua bibliografia de cerca de 5000 ítens, com índices de autores, temas, regiões, povos e periódicos, pode ser consultada na biblioteca da Discoteca Pública Municipal de São Paulo. A respeito do Brasil, as informações são insuficientes. Kunst cita, no índice dos povos e regiões cuja música tem sido estudada ou gravada, algumas obras genéricas e básicas facilmente encontráveis, até mesmo na biblioteca do Instituto, tais como a Music of Latin America de Nicolas Slonimsky, A Música no Brasil de Guilherme Teodoro Pereira de Melo, a História da música Brasileira de F. Acquarone (Rio de Janeiro, s/d) e a Historia da Música Brasileira de Renato Almeida, na sua segunda edição, de 1942, além de algumas obras de autoria ou organizadas por Oneyda Alvarenga, tais como o artigo "A influência negra na música brasileira" publicada no Boletin Latino-Americano de Musica VI, em 1946, o seu famoso livro Música popular brasileira, publicado em 1950, além de alguns cadernos resultantes da Missão de Pesquisas Folclóricas, ou seja Tambor-de Mina e Tambor-crioulo, de 1948, e Chegança de Marujos, de 1955, e, em apêndice, as Melodias registradas por Meios Não-Mecânicos, de 1946. De Mário de Andrade, cita o estudo "As danças dramáticas do Brasil", publicado no mesmo número VI do Boletin Latino-Americano de Música, de 1946, e, em tradução inglesa, de 1943, "Popular music and song in Brazil", de 1936. Aliás, esse volume VI do Boletin Latino-Americano de Música pode e deve ser estudado pelos Senhores na biblioteca da Discoteca Pública Municipal. Ele inclui também, entre outros, um trabalho sobre o Fado de Irene da Silva Mello Carvalho, que traz o sub-título, "Um problema de aculturação luso-brasileiro" e que os Srs. certamente já trataram no curso de Folclore musical. Precisaríamos conseguir uma cópia de uma publicação surgida em Lisboa, em 1872, de Adelino A. das Neves e Mello, e que trata de Musicas e canções populares colligidas da tradição. Também o nosso Alceu Maynard de Araújo está representado com o seu estudo sobre os "Instrumentos musicais e implementos", publicado na Revista do Arquivo Nr. 157, de São Paulo, em 1954. Da Revista do Arquivo cita também as "Rondas infantis brasileiras" de Veríssimo de Melo, a qual foi publicada o número 65, em 1953. Também é lembrado dos Elementos de folklore musical brasileiro de Flausino do Valle, de 1936. O nosso grande Luiz Heitor Correa de Azevedo é lembrado em algumas de suas publicações, ou seja, com a sua tese "Escala, ritmo e melodia na musica dos indios brasileiros", de 1938, com a sua A música brasileira e seus fundamentos, publicada em Washington, em 1948, assim com o artigo no Groves Dictionary, "Brazilian Folk Music", com uma contribuicão sobre as melodias Tupinambá no relato de Jean de Léry, publicado nos "Papers of the American Musicological Society", em 1941, e com o importante estudo "La guitare archaique au Brésil", publicado em 1956 numa coletânea em homenagem a Bela Bartók (Studia Memoriae Belae Bartók Sacra, p. 123ss), que os Srs. têem aqui à disposição. Também estão incluídas as relações dos discos gravados nos Estados de Goiás, Ceará, e Minas Gerais, ou seja, as publicações do Centro de Pesquisas Folclóricas da Escola Nacional de Música, saídas à luz no Rio de Janeiro, respectivamente em 1942, 1943 e 1956. Do nosso Mtro. Martin Braunwieser cita o autor o estudo sobre "O Cabaçal", também publicado no já citado volume VI do Boletin Latino Americano de Música, em 1946. De Rossini Tavares de Lima, se encontra apenas o livro Melodia e ritmo o folclore de São Paulo, edição de 1954, o que é indesculpável. O O Bumba-Meu-Boi, de Ascenso Ferreira, publicado no Recife, em 1944 não é esquecido, nem o livro de Angelica de Rezende, Nossos Avós contavam e cantavam: Ensaios folclóricos e tradições brasileiras, publicado em Belo Horizonte, em 1949, que os Srs. tão bem conhecem do estudo do Folclore. Ele inclui também textos de divulgação, como aquele de título "Brazilian music" de Mario Pedrosa, publicado numa revista denominada Theatre Arts Monthly, número 23, em 1939, e o ensaio "Rythmes et figures du Brésil" de R. Saussine, publicado em La Revue musicale, em 1931. Quanto à música indígena, Kunst não esquece do artigo pioneiro de J. Barbosa Rodrigues, "O canto e a ança selvícola", surgido na hoje raríssima Revista Brazileira III, volume 9, no Rio de Janeiro, em 1881, e que temos a sorte de possuir uma cópia. O mesmo podemos dizer da obra fundamental de Karl Gustav Izikowitz sobre os instrumentos musicais dos índios sul-americanos (Musical and other Sound-instruments of the South American Indians), publicado na Suécia, em 1927, e a de Emil Heinrich Snethlage sobre os instrumentos musicais dos índios do território do Guaporé (Musikinstrumente der Indianer des Guaporégebietes) publicada em Berlin, em 1938, e que nos foi em parte traduzida pelo Mtro. Martin Braunwieser. Ele inclui, sobretudo no referente à música indígena, obras de etnólogos, tais como o livro Indianer Studien im nordöstichen Chaco de Herbert Baldus, o capítulo 27, que trata dos Instrumentos de música, da famosa La civilisation matérielle des tribus Tupi-Guarani de Alfred Métraux, lançada em Paris, em 1927, o capítulo 17, que também trata de instrumentos musicais, da obra sobre os índios Palikur de Curt Nimuendajú, publicada na Suécia, em 1926, estudos de Darcy Ribeiro, sobretudo a "Notícia dos Ofaié-Chvante" saída na Revista do Museu Paulista, em 1951. Fácil de ser consultada para os Srs. é o trabalho "Musica e Dança entre os Indios do Brasil" de F. S. G. Schaden, publicado em Paulistania XXVI, em 1948. Ainda não conseguimos adquirir uma cópia do trabalho "La musica y la danza de las tribus indias Kaa-Ihwua (Guarani) y Botocudo" de J.D. Strelnikov, apresentada durante o 23° Congresso de Americanistas, em 1928 e publicada em Nova Iorque, em 1930; talvez o Museu Paulista a possua. O mesmo acontece com o estudo sobre a musicalidade dos Tupi-Guarani de Julio Viggiano Esain, publiado em Cordoba, Argentina, em 1954. Kunst inclui também aqueles estudos publicados por musicólogos europeus que se basearam em materiais coletados em viagens de pesquisas de outros, tais como "Die Musik der Uitoto" de Fritz Bose, publicado na Alemanha, na Revista de Musicologia Comparada II, de 1934. Incluido está o artigo, em alemão, de A. Deuber, sobre os Instrumentos Musicais e a Música dos Arapai, anexo ao livro de Felix Speiser, "Nas trevas da Floresta Amazônica", saído em Stuttgart, em 1926, já conhecido por Mário de Andrade e e que Martin Braunwieser nos traduziu. Do famoso Erich M. von Hornbostel está incluido o estudo, em alemão, sobre as flautas Pan do Noroeste do Brasil ("Ueber einige Panpfeifen aus Nordwest Brasilien"), do ainda mais famoso livro de Theodor Koch-Grünberg, "Dois Anos entre os Indios", publicado em Berlin, em 1910. Juntamente com Curt Sachs, musicólogo do qual trataremos mais detalhadamente, tem-se um artigo, em alemão, sobre a música dos Makuxi, Taulipang e Jacuna, incluído no livro de Theodor Koch-Brünberg, "De Roroima ao Orinoco", de 1923; este estudo os Senhores podem ler em espanhol nos Archivos venezoelanos de Folklore IV/V, volume 3, publicado em Caracas, em 1955/56, mais facilmente disponível. Particularmente ressaltado deve ser uma "Contribución a la música de Mato Grosso" surgida no volume VII do Anuario Musical, em 1952, de autoria die Marius Schneider, cuja obra, em geral, analisaremos com especial cuidado. A bibliografia inclui um ítem de título "Alain Gheerbrant aux sources de lhomme" de A. Dejardin, publicado em Synthèses VII, N. 78, em 1952, que não conhecemos. Também não dispomos do estudo de Zymunt Estreicher de título "Chants et rhythmes de la danse dhommes Bororo" publicadas no Bulletin de la Societé Neuchâteloise de Géographie, nr. 51, fascículo 5, em 1954/55. Do missionário Carlos Borromeu Ebner cita um estudo, em alemão, denominado Contribuições para a História da Música no Amazonas (Beiträge zur Musikgeschichte am Amazonas), saído nuns Anais missionários do Preciosíssimo sangue, em Belém, em 1950; a respeito de outro relato desse missionário os Srs. podem encontrar notícias na Revista Musica Sacra dos Franciscanos de Petrópolis. Para nós inacessível é o estudo "Musique Indienne du Brésil" vol. I de Henriette van Lennep, surgido o 'Gramofoon voor kenner en liefhebbe" em setembro de 1957. Também não conhecemos um artigo de Payer, a respeito de um conjunto de tambores empregado na região do Amazonas ("Ein am Amazonenstrom geräuchlicher Trommelapparat") que saiu na revista alemã de Etnologia (35), já em 1903! O mesmo acontece com um trabalho em alemão de Siegfried Wolf a respeito das flautas nasais, publicado em Leipzig, em 1941, e que parece ser de grande importância para o estudo da música dos Nhambiquara, a que se dedica no momento a Profa. Nicole Jeandot juntamente com o Prof. Desiderio Aytai. Nas bibliotecas do Rio de Janeiro os Srs. encontrarão o estudo fundamental de H. H. Manizer, sobre a música e os instrumentos musicais entre algumas tribos brasileiras, inicialmente publicado em russo, em Petrogrado, em 1918; a Profa. Tatiana Braunwieser se dispôs a realizar uma tradução para o português diretamente do original. Fácil porém de consultar é a obra Chants populaires du Brésil de Elsie Houston-Péret, publicado em 1930. Quanto à música dos africanos no Brasil, Manuel Querino está representado com os Costumes africanos no Brasil, Arthur Ramos com o seu questionável O Negro Brasileiro, publicado em segunda edição em São Paulo, em 1940, e em inglês, em Washington, em 1939. De Melville J. Herskovits cita não só o trabalho de cunho mais genérico sobre o estudo da música negra no hemisferio ocidental publicado em espanhol no citado volume VI do Boletin Latino-Americano de Música, de 1946, como também o artigo "Tambores y tamborileiros no culto afrobrasileiro" do mesmo Boletim, na versão inglesa, "Drums and Drummers in Afro-Brazilian Cult-life", divulgado em The Musical Quarterly XXX/Nr. 4, de 1944. Não é esquecido o estudo de Herskovitz juntamente com Richard A. Waterman sobre a "Musica de culto Afrobahiana" do vol. II do citado Boletim, antes publicado na Revista de Estudios Musicales I/Nr. 2, em 1949, que aqui possuimos. Dessa revista argentina de Mendoza cita-se também um outro estudo sobre a "Música de Culto Afrobahiano" de M. Kolinski. Nos semestres dedicados à Àfrica e à América vamos analisar criticamente esses trabalhos, assim como a obra de Nestor Ortiz Oderigo Panorama de la musica Afro-americana, publicada em Buenos Aires, em 1944, e sobretudo, o artigo "Songs of the Ketu cult of Bahia", de Alan P. Merriam, saído no periódico African Music, em 1956 e em 1957. A falta de critérios se demonstra na inclusão de O jogo da capoeira de Carybé, saído na Bahia, em 1955. No índice do suplemento à terceira edição do seu livro, Kunst cita uma publicação anônima de título "O jôgo da capoeira", publicada na Bahia, os Vaqueiros e cantadores de Luiz da Câmara Cascudo, publicada em Porto Alegre, em 1939, a Contribuição rítmico-modal do canto Gregoriano para a música popular brasileira do nosso Pe. José Geraldo de Sousa, publicada na Revista Música Sacra nr. 17 de 1958 de Petrópolis e um artigo de Gerardo A. de Carvalho surgido nos Anais do Museu Histórico Nacional (IX, p.139ss] em 1958, de título "Os instrumentos musicais primitivos afro-brasileiros no Museu Histórico Nacional". Quanto às gravações, cita discos publicados pela editora Contrepoint (Paris) com exemplos de várias tribos e notas de Simone Dreyfus-Roche e com exemplos de música de negros da Bahia, também com notas de Simone Dreyfus-Roche. Da Ethnic Folkways, de Nova Iorque, cita os discos com música de tribos do Mato Grosso recolhidas por Edward Weyer e comentários de Harry Tschopik; aquele com música de tribos do Alto Amazonas, recolhida por Harry Tschopik e comentários de Wllard Rhodes; uma gravação com música negra da África e da América e que inclui o Brasil; aqueles com tambores africanos e afro-americanos; um disco com uma seleção de cantos de vários povos, incluindo o Brasil, e comentados por Henry Cowell. Ressaltamos as edições do Musée de lHomme, de Paris, de cantos de índios do Xingú e dos Kaingang de Santa Catarina, gravados por Simone Dreyfus-Roche. Da Library of Congress, em Washington, lembra Kunst as gravações de cantos religiosos afro-baianos (volume XVIII) feitas por M.J. Herskovits. Como os Srs. podem perceber, é realmente admirável o trabalho de Jaap Kunst de se informar a respeito da música brasileira. Apesar de tudo, porém, essa obra, que omite obras e gravações fundamentais para o conhecimento da música do Brasil, e que mistura estudos histórico-musicais, etnológicos, folclóricos, de aproveitamento de folclore e de divulgação geral dá uma idéia do grande desconhecimento e da falta de critérios e métodos com relação à música do Brasil que parecem reinar nos centros especializados em Etnomusicologia no Exterior. A culpa é exclusivamente nossa, pois cabe a nós desenvolvermos e aperfeiçoarmos o trabalho bibliográfico iniciado pelo Professor Luiz Heitor Correa de Azevedo. Faz falta uma bibliografia crítica da Etnomusicologia do Brasil, tal como aquela intentada por Herbert Baldus para a Etnologia geral e publicada em São Paulo, em 1954.
Aula inaugural dos cursos de Etnomusicologia da Faculdade de Música e Educação Artística do Instituto Musical de São Paulo. Publicado em partes no livro BrasilEuropa & Musicologia, ed. H. Hülskath, Köln: I.S.M.P.S. e.V. 1999, 119-124. ©Todos os direitos reservados
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