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NO ANO VILLA-LOBOS: NECESSIDADE DA PESQUISA DA CIÊNCIA
Antonio Alexandre Bispo
A convite do Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores do Brasil, a pianista Eny da Rocha, de São Paulo, está realizando uma Tournée pela Europa, na qual ela executa obras de H. Villa-Lobos em homenagem ao seu centenário de nascimento. Esta apresentação tem o patrocínio da Embaixada Brasileira e da Divisão de Difusão Cultural do Itamaraty (com base na Lei 7.505/86- "Sarney") e conta com o apoio de firmas particulares. A sua apresentação em Colonia, pelo Institut für Studien der Musikkultur des Portugiesischen Sprachraumes e.V., é acompanhada por esta conferência a pedido do Secretário responsável pelo setor cultural da Embaixada de Bonn. Esta apresentacão coincide com a data em que comemoramos os dois anos de fundação oficial desta instituição. Este é um motivo para tecermos algumas considerações de caráter genérico e básico a respeito dos estudos musicológicos no contexto Brasil-Europa. Já no início do ano, este Instituto cooperou com a Sociedade Brasileira de Musicologia, com a FUNARTE e várias outras instituições brasileiras na realização do Primeiro Congresso Brasileiro de Musicologia pelo ano comemorativo do centenário de H. Villa-Lobos. Esse Congresso, levado a efeito em São Paulo, foi dedicado ao tema "A situação da pesquisa e dos estudos musicológicos no Brasil". Juntamente com esse congresso teve lugar um encontro regional do projeto "Music in the life of man" do Conselho Internacional de Música/UNESCO. Em primeiro lugar, porém, gostaríamos de esboçar ao público aqui presente um quadro geral no qual se enquadra a vida e a obra de Heitor Villa-Lobos. ( ...) Quando se fala, nos nossos dias, em música do Brasil na Europa, além da música popular, o único nome que ocorre à maioria dos músicos e amadores é o de H. Villa-Lobos. As suas obras, sobretudo para violão, fazem parte de programas de concerto e de ensino. O nome de H. Villa-Lobos é um dos poucos nomes de compositores brasileiros encontrado em compêndios de História da Música geral. O Brasil pode ter certamente orgulho de ver-se representado, como poucos países latino-americanos, por um compositor de tal renome e de reconhecido gabarito, citado muitas vezes num mesmo átimo que Béla Bartók. Esse alto grau de divulgação do nome de Villa-Lobos marca a imagem da música brasileira e a do próprio Brasil no Exterior. Além dos aspectos altamente positivos desse fato, pela qualidade das obras desse compositor, precisamos porém também considerar possíveis aspectos negativos, derivados de uma redução da música do país a quase que um único nome. No passado, o lugar que hoje ocupa H. Villa-Lobos como representante musical do Brasil no Exterior cabia a Antonio Carlos Gomes, cujo sesquicentenário foi comemorado em 1986, hoje um nome pouco conhecido das platéias internacionais e que só aos poucos vai sendo redescoberto. Vemos, portanto, como é temporária a popularidade e a difusão de determinados nomes, o que torna questionável a personalização excessiva da História da Música e da Cultura Musical de países, regiões e povos. Precisamos diferenciar, fazer jus à multiplicidade dos estilos das diferentes épocas e das diversas personalidades, assim como à variedade da música folclórica e popular tanto no tempo histórico quanto no espaço geográfico. Para isso, porém, é necessário pesquisar. Antes que toda e qualquer difusão cultural que ofereça realmente um quadro mais rico e multifacetado do país é necessário que haja investigações. Deve-se portanto lutar pela consideração da música do Brasil nos cursos de Musicologia das universidades européias. A pesquisa da vida e obra de H. Villa-Lobos parece estar bastante desenvolvida, se considerarmos as numerosas publicações existentes. Não é aqui o local para tratarmos da longa bibliografia dedicada a este compositor, composta de trabalhos de muito desigual valor. Queremos apenas salientar que somos da opinião que seria necessária dar início a uma nova fase, mais objetiva e com maior fundamentação musicológica no estudo de sua vida e obra. Um catálogo de orientação básica, muito divulgado, é o livro Villa-Lobos, sua obra, do MEC/DAC/Museu Villa-Lobos, saído à luz, em segunda edição, em 1974. Uma visão geral da bibliografia oferece o livro do Embaixador Vasco Mariz, Heitor Villa-Lobos: Compositor Brasileiro, primeiramente publicado pela Divisão Cultural do Ministério das Relações Exteriores, no Rio de Janeiro, em 1949, que já teve várias edições e traduções. Uma espécie de auto-biografia é o livro O Romance de Villa-Lobos, escrito por C. Paula Barros em publicado no Rio de Janeiro, em 1951. Em 1960, o Ministério da Educação e Cultura publicou uma "Homenagem a Villa-Lobos", com artigos de vários autores. Em 1972, Luiz Guimarães, com outros colaboradores, ofereceu à memória de Villa-Lobos e de Lucília Guimarães Villa-Lobos o livro Villa-Lobos: visto da Platéia e na Intimidade (1912/1935). Entre as biografias, citamos aqui a de Marcel Beaufils, Villa-Lobos, musicien et poète du Brésil, publicada pelo Museu Villa-Lobos, em 1964; a Síntese crítica e biográfica de Eurico Nogueira França, também publicada pelo Museu Villa-Lobos, no Rio de Janeiro. A série "Presença de Villa-Lobos", publicada pelo mesmo Museu Villa-Lobos traz, nos seus vários volumes, um impressionante número de depoimentos, artigos e ensaios de músicos e personalidades de renome. Em alemão, citamos o trabalho de Lisa M. Peppercorn, Heitor Villa-Lobos, ein Komponist aus Brasilien, editado em Zurique, em 1972. Na História da Música encontramos certamente poucos exemplos de um ataque tão frontal e ofensivo a um compositor como o que foi empreendido por Carlos Maul com o seu livro A glória escandalosa de Heitor Vila Lôbos, publicado no Rio de Janeiro, em 1960. A antipatia que esse livro desperta tem efeitos contraprodutivos às intenções do autor. Uma leitura desse livro pode porém ser instrutiva, pois percebe-se, de repente, a grande influência que a promoção feliz de um autor, quer seja ela produto da ação pessoal, quer oficial, pode exercer na difusão da sua obra, na formação da sua imagem e na sua apreciação crítica. Ora, a Musicologia, como ciência, não deveria deixar-se influenciar por fatos criados por tais ações. Entramos aqui no complexo problema da justiça histórica nos trabalhos historiográficos, o que vale também no campo musicológico. Em todo o caso, a pesquisa musicológica da vida e obra de Villa-Lobos precisaria despojar-se inicialmente da carga romanceada e propagandística que caracteriza a literatura respectiva, entregando-se primeiramente a um estudo crítico das publicações a seu respeito. Constata-se, aqui, a importância de uma pesquisa da pesquisa ou também de uma história da pesquisa correspondente. Somente assim poderemos chegar realmente a uma apreciação adequada e justa da produção e da ação de Villa-Lobos, pré-condição até mesmo para a sua consideração mais aprofundada nos meios científicos. Ao lado dessa necessária pesquisa da pesquisa, considerando os pressupostos contextuais, sociais, culturais e políticos que a determinaram, cumpre levantar outras fontes documentais. Este é um trabalho que estamos desenvolvendo, no âmbito do I.S.M.P.S. e.V. sobretudo com relação à vida musical nos círculos alemães de São Paulo, com os quais Villa-Lobos manteve intenso contato no início dos anos 30. Apresentamos aqui alguns programas e documentos da época. Dentre eles, o original do "Concerto Villa-Lobos" levado a efeito no Teatro Municipal de São Paulo, no dia 21 de outubro de 1931, quando ele se despedia daquela cidade. O programa é aberto pela sinfonia do Tanhäuser de Wagner, em arranjo para banda, regida pelo Mtro. Capitão Antão Fernandes. Sob a sua própria regência, Villa-Lobos apresentou a Cantiga de Roda para coro feminino e banda, as Preces sem Palavras para coro mixto a capella em primeira audição, o Momo precoce, em versão para piano e banda, interpretado por Souza Lima , a sinfonia do Salvador Rosa de Carlos Gomes, pela banda regida por Antão Fernandes e, por fim, duas peças de Villa-Lobos, o Na Bahia tem... para coro masculino e o Pra frente ó Brasil para coro mixto. Este programa de 1931 parece demonstrar, mais do que quaisquer palavras, a necessidade de um estudo contextualizado mais aprofundado da vida e da obra de H. Villa-Lobos.
Conferência de abertura das comemorações do ano Villa-Lobos pelo I.S.M.P.S. e.V. sob o patrocínio da Embaixada do Brasil na Alemanha, em Colonia, no dia 22 de outubro de 1987. Seguiu-se concerto com obras de H. Villa-Lobos pela pianista Eny da Rocha. A conferência foi proferida em alemão. Publicada em partes em BrasilEuropa & Musicologia, ed. H. Hülskath, Köln: I.S.M.P.S. e.V. 1999, 216-218. ©Todos os direitos reservados
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