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CIÊNCIA DA CULTURA - CULTUROLOGIA Reflexões preliminares
Texto para os debates relativos à atualização teórica da A.B.E. (1992). Baseado em trabalho que serviu às discussões relativas à orientação científico-cultural de diferentes áreas disciplinares e que antecederam à fundação do Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa, em 1985. Rediscutido por ocasião da inauguração do Secretariado Europeu da instituição, em 1997.
A. A. Bispo Observação importante: A Academia Brasil-Europa (A.B.E.) designa-se, desde 1992, como instituição dedicada à ciência da cultura e da ciência. Alguns leitores julgam, à primeira vista, haver um êrro nessa denominação, pois desconhecem o termo "ciência da ciência", área de estudos mais divulgada no âmbito de língua inglêsa ("science of science"). Julgam que a A.B.E. seria uma entidade de Cultura e Ciência, o que não é correto. O escopo da entidade está corretamente expresso na sua designação: Ciência da Cultura & science of science. A A.B.E. tem uma concepção que lhe é própria e que foi desenvolvida pioneiramente no âmbito de seus trabalhos. Ela considera, por princípio, que os estudos culturais devem ser desenvolvidos em estreita relação com estudos da história da ciência e análises das respectivas rêdes sociais do trabalho científico (science of science). Os estudos culturais não devem ser considerados independentemente das rêdes de pesquisadores que os produziram. O próprio desenvolvimento do pensamento em determinado contexto sócio-histórico de sua produção é visto como expressão cultural e objeto da ciência da cultura. A pesquisa do vir-a-ser de idéias e do seu desenvolvimento surge também como necessária para a justiça histórica. Essa orientação da A.B.E. foi discutida e formulada no contexto de esforços destinados à atualização teórica dos trabalhos. Na tradição em que se insere, estudos de fenômenos culturais eram até então focalizados a partir de perspectivas determinadas pelo conceito de Ciências do Espírito. As reflexões, desenvolvidas sistematicamente em meados da década de 70, levou primeiramente à concepção culturológica de uma determinada área: a da musicologia. Como fato pioneiro no desenvolvimento de uma musicologia de orientação culturológica fundou-se finalmente, em 1985, o Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (ISMPS). Com base nesse desenvolvimento, procedeu-se então à atualização teórica da A.B.E. O texto ao lado, aqui apresentado apenas em alguns de seus trechos, foi discutido nesses anos de acentuada reflexão teórica para a renovação da entidade das décadas de 80 e 90. É publicado aqui como texto já histórico para fins de documentação do caminho dos pensamentos. Pode servir, também, para que idéias não se repitam no debate atual, o que sempre prejudica o desenvolvimento dos estudos culturais.
Observação importante:
A Academia Brasil-Europa (A.B.E.) designa-se, desde 1992, como instituição dedicada à ciência da cultura e da ciência. Alguns leitores julgam, à primeira vista, haver um êrro nessa denominação, pois desconhecem o termo "ciência da ciência", área de estudos mais divulgada no âmbito de língua inglêsa ("science of science"). Julgam que a A.B.E. seria uma entidade de Cultura e Ciência, o que não é correto. O escopo da entidade está corretamente expresso na sua designação: Ciência da Cultura & science of science. A A.B.E. tem uma concepção que lhe é própria e que foi desenvolvida pioneiramente no âmbito de seus trabalhos. Ela considera, por princípio, que os estudos culturais devem ser desenvolvidos em estreita relação com estudos da história da ciência e análises das respectivas rêdes sociais do trabalho científico (science of science). Os estudos culturais não devem ser considerados independentemente das rêdes de pesquisadores que os produziram. O próprio desenvolvimento do pensamento em determinado contexto sócio-histórico de sua produção é visto como expressão cultural e objeto da ciência da cultura. A pesquisa do vir-a-ser de idéias e do seu desenvolvimento surge também como necessária para a justiça histórica.
Essa orientação da A.B.E. foi discutida e formulada no contexto de esforços destinados à atualização teórica dos trabalhos. Na tradição em que se insere, estudos de fenômenos culturais eram até então focalizados a partir de perspectivas determinadas pelo conceito de Ciências do Espírito. As reflexões, desenvolvidas sistematicamente em meados da década de 70, levou primeiramente à concepção culturológica de uma determinada área: a da musicologia. Como fato pioneiro no desenvolvimento de uma musicologia de orientação culturológica fundou-se finalmente, em 1985, o Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (ISMPS). Com base nesse desenvolvimento, procedeu-se então à atualização teórica da A.B.E.
O texto ao lado, aqui apresentado apenas em alguns de seus trechos, foi discutido nesses anos de acentuada reflexão teórica para a renovação da entidade das décadas de 80 e 90. É publicado aqui como texto já histórico para fins de documentação do caminho dos pensamentos. Pode servir, também, para que idéias não se repitam no debate atual, o que sempre prejudica o desenvolvimento dos estudos culturais.
Necessidade de reflexões terminológicas e de concepções
Os estudos culturais caracterizam-se, na atualidade, por uma grande diversidade de aproximações teóricas, de princípios metodológicos e de perspectivações. Consistência e coerência de uma Ciência da Cultura como disciplina em si exigiriam, na verdade, uma determinação clara do objeto de estudos e isso pressupõe reflexões teóricas a respeito do conceito e da compreensão de cultura. Reflexões terminológicas desempenham, assim, necessariamente, um papel relevante em trabalhos culturológicos, pois oferecem as pré-condições para a determinação do objeto de estudo e da forma de procedimento científico.
Uma determinação unívoca e em geral aceita do termo, da conceituação de cultura e uma conseqüente diferenciação necessária ao desenvolvimento das reflexões ainda permanecem em aberto.
(...) Ciências ou Ciência da Cultura Alguns estudiosos preferem ainda falar em Ciências da Cultura no plural, - Ciências da Cultura - as quais abrangeriam as disciplinas e as áreas de pesquisa que se ocupam com fenômenos e processos culturais sob diversos aspectos, de acordo com as diferentes tradições disciplinares e enfoques científicos. A elas pertenceriam a Pesquisa do Folclore (Volkskunde) e a Etnologia ou Antropologia Cultural, a História da Arte e a Etnologia da Arte, a Musicologia, a Ciência Comparativa das Religiões e muitos outros ramos de pesquisas, sobretudo aqueles de origem mais recente, tais como a Ciência da Mídia e a Pesquisa das Comunicações.
Essa acepção de Ciências da Cultura no plural significaria porém apenas uma nova designação para o conjunto de disciplinas denominadas de Ciências do Espírito no mundo de língua alemã (Geisteswissenschaften) e Ciências Humanas nos países românicos. Subsumir aqui as matérias orientadas para o estudo da cultura poderia levar à nivelação das diferenças próprias das diversas correntes de pensamento, derivadas de desenvolvimentos históricos particulares. Dessa forma, contribuiria a um empobrecimento de perspectivas.
A convicção de que a origem, a difusão, a ramificação e a diferenciada caracterização no tempo e no espaço de ramos e áreas de pesquisa voltadas à cultura representam eles próprios fenômenos culturais, que apenas podem ser entendidos dentro dos respectivos contextos e situações sócio-culturais, abre caminhos para dar maior precisão ao conceito de uma Ciência da Cultura ou Culturologia capaz de refletir a respeito de seu próprio objeto de pesquisa.
(...)
Objetivos e objetos da Ciência da Cultura
As tarefas de uma Culturologia deveriam assim incluir não apenas áreas novas de estudos ou até hoje pouco representadas no edifício das ciências, tais como aquelas voltadas a fenômenos e processos culturais segundo os enfoques dos cultural studies britânicos ou a problemática de gender. Ela deveria incluir também a análise de correntes particulares de pesquisa e de método nas diversas disciplinas de escopo cultural.
Ciência da Cultura e análise das rêdes de produção científica
O reconhecimento de que o panorama de pesquisa é, ele próprio, uma construção cultural, permite que a Culturologia, apesar de toda a sua inter-e transdisciplinaridade, não leve à extinção das várias disciplinas, mas sim à reflexão a seu respeito, em atitude atenciosa para com os respectivos processos de desenvolvimento, diferenciações e caracterizações. Na realização desse intuito, que é mais do que o de uma História das Ciências, a Culturologia deve sobrepassar fronteiras, a fim de examinar as redes de um complexo global de relações das disciplinas dirigidas à cultura e investigar a sua história, seus condicionamentos, suas dependências, sendas e sua dinâmica atual. Ela não pode, aqui, deixar de se ocupar com as condições do próprio trabalho científico nos diferentes contextos culturais, o que contribui para a elucidação dos modos de recepção e produção do saber. A Culturologia procede portanto concomitantemente com uma Sociologia das Ciências e, no sentido lato, com uma Pesquisa da Ciência ou Ciência da Ciência (science of science). Ela é, além do mais, necessariamente, inter- e transcultural.
Com essa orientação intercultural, a Culturologia evita o perigo de uma unilateralidade eurocêntrica e respeita as correntes de pensamento e os respectivos enfoques teóricos, as perspectivas e os métodos da pesquisa nas suas diversas culturas. Ela enriquece-se com as diversas contextualizações, atendo-se, também no espectro de suas reflexões, não apenas à diversidade cultural, mas sim a uma cultura da diferença, procurando atingir uma maior acuidade sensível perante processos diferenciadores.
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